REDESCOBRIR A PALAVRA DE DEUS CONTIDA NA SAGRADA ESCRITURA COMO EUCARISTIA – PARTE 1

Seminarista Bruno Alves
Pela Comissão Diocesana de Liturgia 

De modo algum, esperava estar escrevendo sobre este tema para o jornal deste mês. Não que não quisesse fazer isso, mas essa seria uma reflexão que proporia para futuras edições. Estava seguindo o ritmo do Ano Litúrgico e você caro leitor e leitora do Jornal Fonte pode perceber que, a cada mês, a proposta de tema por mim apresentada buscava estar de acordo com o tempo ou contexto que a Igreja estava celebrando. Contudo, esse meu planejamento pessoal quebrou-se, não por vontade própria, mas quando, ainda no mês de março, fomos atingidos pela triste realidade da pandemia da COVID-19 (Novo Coronavírus).


Essa pandemia mudou o ritmo de nossas vidas, de modo que fomos privados de reuniões, encontros e celebrações comunitárias. O convite fortemente dado pelas autoridades competentes foi de que cada família ficasse em casa, com especial atenção as crianças e idosos, pertencentes ao grupo de risco. Essa permanência, em nível religioso, fez com que cada fiel tivesse a oportunidade de fazer uma experiência de fé diferente da habitual. Agora não mais dispondo do lugar de culto, as famílias foram convidadas a transformar suas casas em verdadeiras Igrejas domésticas, alimentadas sobretudo pela experiência da Palavra de Deus contida na Sagrada Escritura. É a partir desta realidade que está se vivendo que resolvi discorrer nesta e nas próximas edições do Jornal Fonte, apontando a necessidade de se redescobrir a Palavra de Deus contida na Sagrada Escritura para alimentar a vida de fé. Buscarei mostrar para você leitor e leitora, como é possível através da Sagrada Escritura se alimentar também da Eucaristia.

Primeiramente, é importante entender que, de acordo com a doutrina católica, a Palavra de Deus se dá por meio de dois caminhos, derivados de uma mesma e única fonte divina, o próprio Deus. Estes dois caminhos são a Sagrada Escritura e a Sagrada Tradição. Corriqueiramente, no dia-a-dia, chama-se Palavra de Deus quando se quer referir-se apenas a Sagrada Escritura, o que é errôneo. A Palavra de Deus não está contida somente na Escritura, mas também na Tradição, que até mesmo, cronologicamente, lhe é anterior. Não há, porém, uma contradição entre uma e outra, mas ambas se complementam e apontam para um mesmo ensinamento.

A Sagrada Escritura é entendida Palavra de Deus enquanto escritos e organização canônica de livros. A Sagrada Tradição, por sua vez, é entendida Palavra de Deus enquanto caminhada do povo de Deus após a ascensão de Jesus Cristo ao céu, primeiramente formada pela vida e testemunho dos Apóstolos em sua fase constitutiva (Igreja primitiva dos primeiros séculos) e, posteriormente, em sua fase interpretativa, pela contribuição dos sucessores dos apóstolos, bem como de todas as pessoas, homens e mulheres de boa vontade (Da morte do último apóstolo até os dias atuais).

Entretanto, apesar da Palavra de Deus estar contida tanto na Sagrada Escritura quanto na Tradição, pode-se dizer que, mais facilmente, é pela Escritura que o povo de Deus faz sua experiência com Deus para alimentar a sua espiritualidade. Dados de pesquisa apontam que a Bíblia é o livro mais comprado e lido no mundo. Além disso, com o acesso as celebrações e momentos de oração propostos pelas diferentes denominações religiosas, a Palavra de Deus contida na Escritura alcança a mais pessoas e permite que essas possam fazer uma experiência com Deus através do livro sagrado.

Outro dado interessante, este mais voltado ao ambiente católico, é o fato de que através da Liturgia da Palavra proposta pela Igreja, percorrendo os Ciclos e os Tempos do Ano Litúrgico e acompanhando as Leituras, Salmo e Evangelho de cada dia, o fiel pode fazer a experiência de ler e escutar quase toda a Sagrada Escritura. Isto acontece porque, em sua distribuição dominical (Anos A, B e C) e semanal (Ano par e Ano ímpar), o Lecionário (Livro litúrgico usado proclamar as leituras na Missa ou na Celebração da Palavra) permite que, no decorrer de três anos, se faça uma leitura mais variada e abundante da ação de Deus na história da humanidade presente na Escritura. Esta leitura ocorre quer com a explanação completa de alguns livros quer com apresentação parcial de outros.

Nos inícios do Cristianismo, a experiência com a Palavra de Deus contida na Sagrada Escritura era acessível a todos fiéis, de modo que não se tinham os textos propriamente em mãos, mas se podia contemplá-los através da primeira parte da Celebração da Fração do Pão (Nome como era chamada a Santa Missa na Igreja nascente). Todavia, esta herança de escutar a Sagrada Escritura na liturgia não foi um elemento novo do Cristianismo, mas foi um dado ressignificado a partir da prática religiosa da época.

Os judeus, aos quais a liturgia católica se refere como aqueles a quem “o Senhor nosso Deus falou em primeiro lugar”, já tinham, muito antes dos cristãos, a prática de ler e interpretar a Sagrada Escritura nas suas sinagogas. Eles reverenciavam o conjunto dos cinco primeiros livros da Bíblia denominados Torá. Acreditavam que estes escritos teriam sido deixados por Moisés e que através deles teriam acesso a Salvação, especialmente pelo cumprimento, em suas vidas e na história, do que ali estava expresso. Desta maneira, guardavam imensurável respeito para com o livro propriamente e para com o rito de sua proclamação na sinagoga. Jesus mesmo frequentava a sinagoga e participou desses ritos. Certa vez, foi até convidado para fazer a Proclamação da Palavra (Cf. Lc 4, 16-21).

Para Refletir

1. Qual é o lugar da Sagrada Escritura em minha vida? Tenho o hábito de lê-la no dia-a-dia? Se não tenho, o que falta em mim para criar este hábito?

2. Como vivencio ou vivenciava antes da pandemia da COVID-19, a primeira parte da Celebração Eucarística, a Liturgia da Palavra?

(Obs: Se você tem dificuldade em organizar um tempo para ler a Sagrada Escritura ou com o método da Leitura Orante e quer ajuda, mande suas dúvidas e dificuldades e procurarei te ajudar. Vamos crescer juntos? E-mail: brunoalves4522@gmail.com ou Celular: (49) 99118-1630)


Comentários