SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM – 17 DE JANEIRO 2021 O OLHAR ATENTO QUE COMPROMETE


1ª Leitura - 1Sm 3,3b-10.19
Salmo - Sl 39,2.4ab.7-8a.8b-9.10 (R.8a.9a)
2ª Leitura - 1Cor 6,13c-15a.17-20 
Evangelho - Jo 1,35-42 


O olhar de João aponta para o Cordeiro de Deus (Jo 1,36). André o segue e tem uma curiosidade: “onde moras”? (Jo 1,38). Jesus não se opõe e convida: “vinde ver” (jo 1,39). André não se contenta em só ele ver onde mora Jesus. Vai ao encontro de seu irmão e lhe diz: “Encontramos o Messias” (Jo 1,41). Jesus, ao avistar Pedro, lhe diz: “Tu és Simão, filho de João; tu serás chamado Cefas” (Jo 1,42) 

Samuel, jovem inexperiente, está com Eli no Templo e ouve a voz de Deus: “Samuel, Samuel!” (1Sm 3,4). Pensando que era Eli que o chamava se dirigiu a ele as três vezes que ouviu seu nome. A experiência de Eli entendeu que se tratava da voz do Senhor chamando Samuel. Diante disso alertou: “Volta a deitar-te e, se alguém te chamar, responderás: Senhor, fala, que teu servo escuta!” (1Sm 3,9). Assim fez Samuel “e o Senhor estava com ele. E não deixava cair por terra nenhuma de suas palavras” (1Sm 3, 19). 

O salmista canta a presença do Senhor na sua vida o acompanhando em sua vida. A esperança no Senhor é o caminho seguro de sua presença, pois “Eis que venho, Senhor, com prazer faço a vossa vontade” (refrão de resposta ao Salmo). 

Paulo, ao escrever aos Coríntios sua primeira carta, alerta sobre a dimensão sagrada do corpo: “O corpo não é para a imoralidade, mas para o Senhor, e o Senhor é para o corpo” (1Cor 6,13c). O corpo não é profano, mas “é santuário do Espírito Santo” (1 Cor 6,19). 

Trazendo a Palavra de Deus para a nossa vida entendemos e cremos que Jesus não se opõe a nós. Ele está conosco e nos convida a ver onde ele mora. O texto sagrado não fala como é a casa e nem se a casa é dele, apenas aponta que ele estava hospedado. Isso quer dizer que Jesus não tem casa. A casa de Jesus é a nossa casa. A casa de Jesus é onde estão os seus filhos e suas filhas. A casa de Jesus são também as ruas, os presídios, os hospitais, os orfanatos, as casas de apoio aos idosos, as casas de recuperação, entre tantos outros lugares. Os erros do ser humano não excluem a presença de Deus de sua vida. Essa é uma escolha pessoal e humana e não de Deus. Por isso precisamos ouvir a voz do Senhor que nos chama para caminhar no Amor e sentir a sua presença que nos impulsiona a estar do lado da justiça valorizando o corpo como sua morada e não simplesmente como mais um número presente no mundo. O corpo é vida e como vida precisa ser valorizado e cuidado para que a vontade de Deus se manifeste em nós e a manifestemos ao mundo. 

O olhar de Jesus tem duas dimensões importantes no tempo que vivemos: se volta para o grito desesperador por vida das pessoas que morrem sem ar pela falta de oxigênio assim como para seus familiares e as equipes médicas que se veem desesperadas por não poder fazer nada enquanto a vida se vai. A segunda dimensão é olhar atento de Jesus que estende a mão e acolhe as tantas vítimas que deixam a vida terrena para acolhe-las junto a si e lhes dar o conforto da alma que aqui não tiveram por serem vítimas de um sistema opressor e negacionista. 

Junto a essa realidade da pandemia muitas outras realidades se fundem, porém o que chama a atenção é o número de vidas que já partiram por causa do novo coronavírus e nada se faz para diminuir esse número e ter uma política pública para administrar essa situação. Sem contar o número crescente de desemprego que aumenta a fome e a miséria. O fato é: o corpo que tem o dever de cuidar dos outros corpos não está fazendo sua tarefa com dignidade para o cargo ao qual foi escolhido. Está deixando muitos corpos perecerem e morrerem. Não adiante tomar iniciativas quando o mal está em curso. É preciso planos antes que elas aconteçam. A Segunda Leitura de hoje cala forte e dói no coração ao ouví-la, pois o corpo do povo brasileiro não está sendo cuidado e amado. Está sendo visto como coisa e número. 

Jesus, ouve o clamor do teu povo que grita por justiça e paz e dai-nos a paz, ao menos a paz que acalma o coração. Ajude nossos governantes a brigarem menos, a fazerem menos politicagem e a cuidar da vida. 



Edemilton dos Santos 
Pós-graduado em Cultura Teológica, Gestão Escolar e Docência no Ensino Superior. 
Graduado em Ciências Sociais, Teologia e Filosofia. 

A imagem foi retirada do Portal Kairós.

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